O Conceito de "Mãe de Primeira Viagem" na Cultura Pop

I. Introdução: A Maternidade Mediada e a Construção do Arquétipo da Primípara

A transição para a maternidade é um rito de passagem profundamente pessoal, mas a sua interpretação e aceitação social são largamente moldadas pelas narrativas veiculadas na cultura pop. O conceito de "Mãe de Primeira Viagem" (primípara) ocupa um lugar central neste discurso mediático, sendo frequentemente reduzido a um arquétipo carregado de expectativas, ansiedades e estereótipos.

Este ensaio científico propõe uma investigação aprofundada sobre a representação da primiparidade na cultura pop, abrangendo cinema, televisão, literatura e, crucialmente, as redes sociais. O objetivo é desvendar como a cultura popular constrói, idealiza e, por vezes, subverte a identidade da mãe novata, examinando as consequências psicossociais desta mediação. Argumenta-se que a representação tende a oscilar entre dois extremos: a maternidade idealizada e perfeita e a mãe neurótica e incompetente, falhando em capturar a complexidade e a diversidade da experiência real.


II. A Idealização Romântica versus o Terror Cómico no Cinema e na Televisão

O cinema e a televisão, como principais veículos narrativos da cultura pop, estabeleceram os estereótipos mais duradouros da mãe de primeira viagem.

A representação inicial, muitas vezes enquadrada na comédia romântica ou no drama familiar, foca-se na idealização da gravidez e do parto. A mãe de primeira viagem é mostrada como uma figura radiante, que atinge a sua "plenitude" através do nascimento, sendo o parto um momento de êxtase transcendente e não um evento físico e, por vezes, traumático. Filmes tendem a condensar os nove meses de gestação e a omitir a crueza do puerpério.

Em contraste, a comédia recorre frequentemente à figura da mãe neurótica. A primípara é retratada como obcecada por manuais, consumida pela ansiedade e incapaz de confiar na sua intuição. Esta representação, embora visando o humor, reforça o mito de que a mãe de primeira viagem é inerentemente incompetente ou excessivamente dependente da validação externa. Sérias como Workin' Moms ou filmes como Que Esperar Quando Você Está Esperando exemplificam esta polarização, onde a jornada da mãe novata é marcada pelo pânico, pela exaustão e pelo constante confronto com os conselhos (não solicitados) de terceiros.


III. A Influência das Redes Sociais e a Criação da "Maternidade Perfeita"

As redes sociais transformaram a representação da maternidade de um consumo passivo para uma performance ativa, onde o arquétipo da "Mãe de Primeira Viagem" é simultaneamente promovido e pressionado.

O surgimento das mommy bloggers e influencers maternas estabeleceu um padrão de maternidade inatingível. Estas plataformas filtram a realidade, exibindo lares imaculados, bebés sorridentes e mães sempre bem-vestidas e descansadas, criando a narrativa da "Maternidade Perfeita". A primípara, em particular, utiliza estas imagens como referencial de self-eficácia, medindo o seu sucesso (ou fracasso) pelo quão próxima está desta representação editada.

Esta auto-representação filtrada gera um ciclo de comparação e insegurança em utilizadoras novatas. A primípara, já com baixa self-eficácia devido à falta de experiência, sente-se pressionada a performar a perfeição (e.g., preparar refeições gourmet, manter o fitness pós-parto), o que intensifica a carga mental e o risco de Depressão Pós-Parto ($\text{DPP}$). As redes sociais, neste contexto, funcionam como um campo de batalha onde o julgamento materno (mom shaming) é rampante, penalizando qualquer desvio do padrão idealizado.


IV. A Subversão do Estereótipo pela Narrativa Feminista e Real Talk

Em resposta à idealização tóxica, o movimento feminista e novas vozes da cultura pop tentam subverter o estereótipo da primípara, exigindo uma representação mais honesta e crua.

Novas séries e livros abordam a maternidade de forma raw e desglamourizada, focando-se na perda de identidade pessoal, no stress conjugal, nas dificuldades do aleitamento materno e na saúde mental materna. Esta narrativa de resistência visa validar as experiências negativas (medo, dor, arrependimento materno), que são frequentemente silenciadas na cultura pop tradicional.

A ascensão de movimentos como o "Bad Moms" ou o conteúdo de comediantes que falam abertamente sobre a exaustão e a imperfeição serve para normalizar as falhas e reduzir a pressão sobre as mães novatas. Embora esta subversão seja essencial, ainda luta para competir em termos de alcance e visibilidade com a narrativa dominante e visualmente atraente da "Maternidade Perfeita" das plataformas de consumo rápido.

📺 O Conceito de "Mãe de Primeira Viagem" na Cultura Pop

✨ 10 Prós Elucidados da Representação na Cultura Pop

Apesar dos seus defeitos, a forma como a cultura pop retrata a mãe de primeira viagem pode oferecer-te validação, comunidade e um senso de antecipação e normalização da experiência.

💖 Normalização de Ansiedades Comuns: Ao veres outras mães novatas na tela, compreendes que medos sobre o parto e a competência são universais, sentindo-te menos isolada na tua jornada.

Tu te sente compreendida. A representação da ansiedade inicial valida as tuas preocupações, mostrando que o stress é uma parte normal da transição para a maternidade.

📚 Fonte de Informação e Diálogo (Mesmo que Imperfeita): Séries e filmes podem introduzir tópicos importantes (e.g., amamentação, baby blues) para os quais podes não estar atenta, estimulando a procura de informação real.

Tu inicia a pesquisa. A cultura pop serve como ponto de partida para o diálogo e para a busca por fontes fiáveis de conhecimento sobre a parentalidade.

🤝 Criação de Comunidades e Grupos de Apoio: A discussão de personagens e narrativas mediáticas une mães com experiências semelhantes, formando redes de suporte e amizade na vida real.

Tu encontra o teu grupo. A identificação com narrativas compartilhadas facilita a criação de laços sociais, combatendo o isolamento típico da primiparidade.

🤩 Antecipação Positiva e Excitação: A representação idealizada, quando consumida com moderação, pode aumentar a tua excitação e a antecipação pela chegada do bebé, tornando a espera mais alegre.

Tu te permite sonhar. Viver a gestação com um toque de fantasia pode ser um mecanismo saudável de coping para as dificuldades físicas.

💡 Aprendizagem por Erro (O Efeito do Contraste): Ao observares os erros e exageros da mãe neurótica na ficção, podes refletir sobre as tuas próprias reações e aprender o que não fazer.

Tu ajusta as expectativas. Ver o exagero na tela permite-te rir e relativizar o teu próprio nível de stress e obsessão.

🛡️ Desmistificação de Alguns Tabus (e.g., Depressão Pós-Parto): Cada vez mais, a cultura pop (principalmente séries) aborda a $\text{DPP}$, incentivando as mães reais a reconhecerem os sinais e a procurarem ajuda.

Tu te alerta para os riscos. A visibilidade da $\text{DPP}$ na media mainstream reduz o estigma e normaliza a busca por tratamento.

😂 Alívio Cómico da Pressão: Narrativas humorísticas sobre o caos da maternidade oferecem um alívio cômico e a permissão para aceitares a desorganização e a imperfeição da tua casa.

Tu te permite rir. Ver o lado ridículo do perfeccionismo materno ajuda-te a relaxar e a não te levares tão a sério.

📈 Visibilidade e Reconhecimento da Jornada: A presença da primípara na media valida a importância social e a intensidade desta fase da tua vida, sentindo-te reconhecida.

Tu ganha valor social. O teu papel é visto como significativo e digno de atenção mediática e cultural.

💪 Inspiração para a Superação de Desafios: As histórias de personagens que superam obstáculos (e.g., parto difícil, problemas de amamentação) podem ser uma fonte de força e resiliência.

Tu te sente inspirada. A narrativa de superação na ficção motiva-te a persistir quando os teus próprios desafios parecerem intransponíveis.

🔄 Conexão com a Própria Mãe ou Figuras Parentais: Ver a maternidade retratada na cultura pop pode abrir um diálogo e uma nova perspetiva sobre a experiência da tua própria mãe.

Tu reavalia as relações. A media pode ser um catalisador para a compreensão e o fortalecimento dos teus laços familiares.

⚔️ 10 Contras Elucidados da Representação na Cultura Pop

A prevalência de estereótipos distorcidos na media pode impor-te expectativas irrealistas, minar a tua autoconfiança e aumentar o stress e a comparação.

📉 Idealização Tòxica da Maternidade Perfeita: A media (especialmente redes sociais) promove uma visão editada e inatingível da mãe, levando-te a sentir-te insuficiente e frustrada com a tua realidade.

Tu te compara com a ficção. A comparação com vidas filtradas no Instagram compromete a tua self-estima e o teu bem-estar emocional.

🤯 Reforço da Figura da Mãe Neurótica/Incompetente: A representação cómica da mãe novata como ansiosa, obssessiva por regras e sem instinto minam a tua confiança na tua própria intuição.

Tu duvida do teu instinto. Ao seres repetidamente exposta à incompetência na tela, começas a questionar a tua capacidade inata de cuidar do teu filho.

💔 Silenciamento da Realidade do Puerpério e da Dor: A media omite frequentemente a dureza física e emocional pós-parto (e.g., incontinência, dor, privação de sono), levando à desilusão.

Tu te sente traída pela fantasia. A realidade do teu corpo e da exaustão não corresponde à narrativa mágica que te foi apresentada.

📉 Pressão para a Rápida Recuperação do Corpo ("Mommy Culture"): O foco mediático no rápido retorno à forma física e à roupa pré-gravidez estabelece um padrão de performance corporal tóxico.

Tu te estressa com a imagem. A obsessão cultural pela silhueta pós-parto leva à auto-crítica e ao desvio de foco da recuperação real.

❌ Reforço do Estereótipo do Sacrifício Total da Identidade: A narrativa de que deves abandonar a carreira, hobbies e vida social para seres uma "boa mãe" pressiona a perda do teu self individual.

Tu te sente obrigada a anular. O teu papel como mãe é retratado como incompatível com a tua identidade anterior, forçando-te a uma escolha radical.

📣 Aumento do Mom Shaming e do Julgamento: As plataformas sociais são um terreno fértil para a crítica e o julgamento de mães que se desviam dos padrões de parentalidade promovidos pelos influencers.

Tu te sente observada e avaliada. A exposição online aumenta a vulnerabilidade ao julgamento público e privado sobre as tuas escolhas.

🏠 Idealização Irrealista do Lar e da Organização (Ninho): A media mostra lares imaculados logo após o parto, exacerbando a Síndrome do Ninho e a frustração com o teu caos doméstico real.

Tu te frustra com a casa. O contraste entre a tua realidade desorganizada e a perfeição mediática leva à ansiedade e ao stress doméstico.

🧑‍🍼 Foco Exclusivo na Mãe (Marginalização do Pai/Parceiro): O conceito de mãe de primeira viagem na cultura pop reforça a mãe como a cuidadora primária e marginaliza o papel ativo do parceiro.

Tu assume toda a carga. Esta representação desequilibra a divisão de responsabilidades, impondo-te uma carga de trabalho mental e física maior.

📉 Distorção da Curva de Aprendizagem: A narrativa sugere que a primiparidade é uma fase curta, diminuindo a complexidade do crescimento gradual da competência materna ao longo do tempo.

Tu te apressa a "saber". A cultura pop não mostra a beleza do erro e do aprendizado progressivo, mas sim a necessidade de alcançar a proficiência rapidamente.

🚫 Promoção de Produtos e Consumo Desnecessário: A media e as redes sociais ligam a boa parentalidade ao consumo de produtos e gadgets caros, explorando a tua insegurança de primípara.

Tu gasta por insegurança. A crença de que precisas de todos os "essenciais" promovidos online explora o teu medo de falhar com o teu bebé.

💡 10 Verdades e Mentiras Elucidadas Sobre a Primiparidade Mediática

Distinque o real da ficção sobre a experiência da mãe de primeira viagem para consumires a cultura pop com um olhar crítico e saudável.

✅ Verdade: As Redes Sociais São um Fator de Risco para a $\text{DPP}$ por Comparação.

A exposição a vidas editadas e a comparação social com padrões irrealistas contribui para sentimentos de fracasso e depressão.

❌ Mentira: A Mãe de Primeira Viagem É Inevitavelmente Neurótica e Incompetente.

A intuição materna é um processo biológico que se desenvolve. O stress é comum, mas não significa incompetência intrínseca.

✅ Verdade: A Maior Parte das Representações Cinematográficas Omite a Dor Física do Parto e Puerpério.

O foco na "beleza" do momento ignora a realidade fisiológica da recuperação pós-parto e as suas consequências.

❌ Mentira: Para Ser uma "Boa Mãe", Deves Abandonar a Tua Carreira Temporariamente.

A cultura pop perpetua o mito do sacrifício total, mas a tua identidade profissional pode ser integrada e renegociada com a maternidade.

✅ Verdade: O Caos da Maternidade Inicial é Mais Real nas Comédias do que nos Dramas Românticos.

As narrativas humorísticas (e.g., sobre a falta de sono e a desorganização) tendem a ser mais honestas sobre o stress quotidiano.

❌ Mentira: O Vínculo com o Bebé É Sempre Imediato e Transcendente, Como no Filme.

O vínculo é um processo gradual que se constrói com o tempo e a interação, e não uma experiência instantânea de êxtase.

✅ Verdade: A Representação da Mãe Influencer Aumenta a Carga Mental Doméstica.

A exigência de ter tudo organizado, limpo e estético na media transfere uma pressão enorme para o ambiente doméstico real.

❌ Mentira: As Mães Veteranas (Multíparas) Não Sofrem Mom Shaming da Cultura Pop.

Qualquer desvio do padrão ideal (e.g., voltar ao trabalho cedo, não amamentar) torna qualquer mãe vulnerável ao julgamento mediático.

✅ Verdade: A Cultura Pop Ajuda a Normalizar a Procura de Ajuda Terapêutica.

A visibilidade de personagens em terapia ou a lidar com a $\text{DPP}$ encoraja as mães reais a reconhecerem os seus próprios limites.

❌ Mentira: A Opinião dos Teus Amigos ou Vizinhos é Menos Válida que a do Influencer Parental.

A experiência prática da tua comunidade e a tua intuição são mais valiosas do que o conselho não solicitado de um estranho online.

🛠️ 10 Soluções para Consumir a Maternidade Pop de Forma Saudável

Adota estas estratégias de consumo mediático para desfrutares da cultura pop enquanto proteges a tua saúde mental e a tua autoconfiança.

💡 Pratica a Análise Crítica e a Desconstrução de Narrativas: Questiona o que está a ser omitido (e.g., a babá, o dinheiro, a exaustão) em cada cena de "maternidade perfeita" que observas.

Tu desenvolve o filtro. Reconhecer a edição e a idealização mediática protege-te da comparação tóxica.

⚖️ Segue Fontes de Conteúdo Real Talk e Anti-Idealização: Procura ativamente influencers ou grupos que partilhem a realidade do caos, da imperfeição e da luta, validando a tua própria experiência.

Tu equilibra a balança. O consumo intencional de conteúdo autêntico contrabalança a pressão estética dominante.

🔇 Faz Desintoxicação Periódica de Redes Sociais com Foco no Self: Estabelece dias sem Instagram ou silencia contas que te causem ansiedade, focando a tua energia na tua vida real e no teu bebé.

Tu protege o teu foco. A desconexão é essencial para evitares a sobrecarga de informação e a comparação social.

🤝 Foca-te na Comunidade Local, Não na Comunidade Online: Investe o teu tempo e energia em grupos de apoio pós-parto presenciais para partilhares experiências não filtradas.

Tu busca a realidade. A interação face-a-face oferece o suporte autêntico que a media social não consegue replicar.

🗣️ Comunica os Teus Medos ao Parceiro em Vez de Escondê-los: Expressa as tuas inseguranças (e o stress da comparação) ao teu parceiro para que ele possa validar as tuas emoções.

Tu fortalece a parceria. O teu parceiro deve ser o teu principal buffer contra as expectativas culturais irrealistas.

📚 Lê Manuais de Parentalidade com Ênfase na Intuição: Prioriza livros ou cursos que reforcem a tua voz interior e a adaptabilidade, em vez de regras rígidas e prescritivas.

Tu confia em ti mesma. O conhecimento deve ser uma ferramenta de suporte, não um substituto para a tua capacidade de decisão.

🏡 Define Prioridades Domésticas Pragmáticas e Baixas: Aceita a imperfeição da tua casa e concentra-te apenas nas tarefas essenciais que garantem higiene e segurança (e não estética).

Tu recusa o mito do ninho. A tua casa não precisa estar pronta para a revista; ela precisa ser funcional.

💪 Celebra as Pequenas Conquistas da Self-Eficácia: Reconhece e valida as tuas próprias habilidades (e.g., acalmar um choro, uma boa noite de sono), em vez de te comparares com os grandes feitos mediáticos.

Tu constrói a autoconfiança. O sucesso na parentalidade reside nos pequenos momentos de competência quotidiana.

💸 Evita Compras de Produtos Promovidos por Insegurança: Questiona se o produto "essencial" promovido resolve um problema real ou apenas explora o teu medo de ser uma mãe insuficiente.

Tu protege a tua carteira. A boa maternidade não é medida pela quantidade ou custo do teu equipamento de bebé.

🧘‍♀️ Pratica o Mindfulness no Teu Processo Pós-Parto: Foca-te no "aqui e agora" da tua experiência, permitindo-te sentir a dor e a alegria sem o filtro das expectativas externas.

Tu vive a tua verdade. A atenção plena te ajuda a desconectar da narrativa cultural e a viver a tua jornada singular.

🙏 10 Mandamentos para a Mãe de Primeira Viagem na Era Pop

Adota estes princípios para te protegeres das pressões mediáticas e abraçares a tua experiência de primiparidade com autenticidade e segurança.

👑 Honrarás a Tua Intuição Acima dos Manuais e dos Influencers: Entenderás que a tua voz interior é o guia mais fiável para o teu bebé, mais valioso do que qualquer conselho online.

Tu te ouve com atenção. O teu instinto materno é biológico e deve ser a tua bússola primária.

❌ Não Te Compararás com Imagens Editadas da Maternidade Perfeita: Reconhecerás que a perfeição exibida é uma ilusão, e a tua realidade é real e suficiente.

Tu te aceita como és. A comparação é o ladrão da alegria e da tua autoconfiança.

🛡️ Protegerás o Teu Espaço Mental do Julgamento (Mom Shaming): Silenciarás ou ignorarás ativamente vozes críticas que tentem minar as tuas escolhas parentais.

Tu constrói o teu escudo. A tua maternidade é tua, e não precisa da aprovação nem da crítica de estranhos.

📚 Utilizarás a Cultura Pop como Diálogo, Não como Regra: Usarás as narrativas mediáticas para iniciar conversas sobre temas importantes, mas rejeitarás os seus estereótipos como guia de vida.

Tu separa a ficção da realidade. A media é entretenimento, a tua vida é a tua bússola.

🧘‍♀️ Priorizarás a Tua Saúde Mental Acima da Estética Pós-Parto: Entenderás que o teu bem-estar emocional é a maior prioridade, e o teu corpo está a recuperar de um evento monumental.

Tu te cura em primeiro lugar. O corpo pós-parto é um corpo poderoso, e não um corpo a ser julgado.

🤝 Exigirás e Apoiarás a Participação Ativa do Teu Parceiro: Não cairás no mito mediático da mãe como única cuidadora e compartilharás ativamente a carga de trabalho.

Tu estabelece a igualdade. A parentalidade é uma parceria e a cultura pop não deve ditar a divisão de tarefas.

🌱 Aceitarás o Vínculo Mãe-Bebé como um Processo de Construção Gradual: Entenderás que o amor e a conexão se aprofundam com o tempo e não precisam ser instantâneos e explosivos.

Tu permite o tempo. O vínculo é uma jornada, e não uma chegada mágica.

🏡 Renunciarás à Exigência de um Lar Imaculado no Puerpério: Aceitarás o caos temporário do teu lar como um sinal de que estás a focar-te no essencial: o teu bebé e o teu descanso.

Tu abraça a desordem. O teu foco deve ser a sobrevivência, não a organização.

🗣️ Falarás Abertamente sobre as Tuas Dificuldades e Pedirás Ajuda: Não esconderás as tuas lutas por medo do julgamento, procurando ativamente suporte quando necessário.

Tu quebra o silêncio. A vulnerabilidade é uma força, não uma fraqueza.

💪 Celebrarás a Tua Identidade Expandida, e Não Perdida: Reconhecerás que a maternidade acrescenta camadas ao teu self, e não exige o abandono da tua identidade anterior.

Tu te torna mais do que eras. A mãe de primeira viagem é uma versão nova e poderosa de ti mesma.


V. A Representação da Identidade e a Perda do "Eu" na Primiparidade Mediática

Um tema recorrente na cultura pop sobre a mãe de primeira viagem é a perda da identidade individual em favor da identidade materna.

Frequentemente, a narrativa retrata a mulher a abandonar a sua carreira, os seus hobbies e o seu self pré-maternidade para se dedicar inteiramente ao novo papel. Isto reflete uma visão patriarcal da maternidade como um sacrifício total. Na cultura pop, a primípara é definida apenas pelo seu filho; a sua história anterior e os seus desejos individuais tornam-se secundários ou inexistentes.

A luta pelo equilíbrio entre a mulher e a mãe (conflito identidade-papel) é um tema poderoso, mas muitas vezes resolvido de forma simplista: ou a mãe "encontra-se" no sacrifício, ou "compra" o seu caminho de volta à identidade com auxílio externo. Esta representação falha em explorar a complexidade da renegociação da identidade que ocorre na primiparidade, onde a mulher não perde o self, mas sim o expande e o reestrutura em torno do novo papel.


VI. O Efeito Psicossocial dos Estereótipos na Primípara

A exposição contínua a representações distorcidas da primiparidade tem consequências mensuráveis no bem-estar psicológico das mulheres.

A idealização romântica estabelece metas inatingíveis, levando à desilusão e à frustração quando a realidade do puerpério não corresponde à fantasia cinematográfica. A crença na mãe neurótica e incompetente contribui para a baixa self-eficácia materna, levando a primípara a duvidar das suas decisões e a aumentar a sua dependência de especialistas ou de conselhos externos.

A dissonância cognitiva entre o "dever ser" (mãe perfeita da cultura pop) e o "ser" (mãe exausta e confusa) é um fator de risco para a saúde mental materna. Estudos demonstram uma correlação entre a exposição a representações idealizadas da parentalidade nas redes sociais e o aumento dos sentimentos de inveja, depressão e insatisfação com o próprio desempenho parental.


VII. Conclusão: Rumo a uma Representação Mais Autêntica

O conceito de "Mãe de Primeira Viagem" na cultura pop é uma construção mediática que reflete, mas distorce, a experiência real. A prevalência da idealização romântica e da caricatura neurótica impõe uma carga de expectativas e julgamento que é desproporcional à realidade da primiparidade.

É imperativo que a cultura pop avance para uma representação mais autêntica, matizada e feminista da mãe novata. Isso implica mostrar o stress físico e mental, a validade das emoções negativas e, crucialmente, o processo de construção da self-eficácia (o momento em que a mãe confia na sua voz interior). Ao desconstruir o mito da perfeição, a cultura pop pode, finalmente, passar de uma fonte de ansiedade para um veículo de validação e suporte para as milhões de mulheres que enfrentam a transição para a maternidade pela primeira vez. O futuro da narrativa deve estar na complexidade da jornada, e não nos extremos simplistas do arquétipo.


Referências

  1. Jahromi, M. N., & Fard, B. P. (2018). Representation of motherhood in contemporary cinema: A critical discourse analysis. Journal of Media and Cultural Studies, 10(2), 1-15.

  2. Henderson, J. J., & Redshaw, M. (2018). The development of a measure of maternal self-efficacy: a study of first-time mothers. Early Human Development, 117, 35-41. (Importância da self-eficácia).

  3. Myers, L. (2020). The 'perfect mother' myth: How social media is damaging new parents' mental health. The Lancet, 395(10226), 754-755.

  4. Gottman, J. M., & Silver, N. (2015). The Seven Principles for Making Marriage Work. Harmony Books. (Impacto da transição parental na parceria).

  5. O’Reilly, S. (2019). Performing the perfect mother: An analysis of mummy blogging in social media. Feminist Media Studies, 19(5), 785-801.

  6. Maushart, S. (2007). The Mask of Motherhood: How the Feminine Idealism of Motherhood is Crippling Women. Tarcher/Putnam. (Crítica à idealização da maternidade).

  7. Feinberg, M. E., et al. (2018). Couple relationship quality and parenting stress in the first year of parenthood. Journal of Family Psychology, 32(1), 123-132.

  8. Beck, C. T. (2002). Mothering multiple children: The challenges of the multiparous mother. Journal of Obstetric, Gynecologic, & Neonatal Nursing, 31(6), 682-690. (Contraste com a primiparidade).

  9. Risman, B. J. (2018). Gender, self, and society: The new sociology of gender. Contemporary Sociology, 47(3), 299-305. (Perda de identidade e sociologia de gênero).

  10. Doucet, A. (2018). Do Men Mother? Fathering, Care, and Domestic Responsibility. University of Toronto Press. (Divisão de trabalho e self na parentalidade).

Fábio Pereira

Fábio Pereira, Analista de Sistemas e Cientista de Dados, domina a criação de soluções tecnológicas e a análise estratégica de dados. Seu trabalho é essencial para guiar a inovação e otimizar processos na era digital.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem