I. Introdução: A Complexidade Neurofisiológica da Dor no Parto
A dor associada ao trabalho de parto e ao parto é uma das experiências fisiológicas mais intensas do ser humano. Contudo, é crucial entender que a "dor do parto" não é um fenómeno homogêneo, mas sim uma experiência multifacetada que se manifesta em, pelo menos, três categorias distintas ao longo das fases do trabalho de parto: a Dor Visceral, a Dor Somática e a Dor Referida.
Este ensaio científico propõe uma análise detalhada da neurofisiologia subjacente a cada um destes três tipos de dor. Serão explorados os mecanismos de origem, a distribuição anatômica e a intensidade típica de cada tipo. Além disso, o ensaio discutirá as estratégias de intervenção mais eficazes, abordando tanto os métodos farmacológicos (analgesia regional e sistêmica) quanto os métodos não farmacológicos (mobilidade, água, massagem), contextualizando-os dentro de uma abordagem de gestão da dor humanizada e centrada na parturiente. A compreensão da natureza da dor é fundamental para a sua gestão otimizada.
II. O Primeiro Tipo de Dor: A Dor Visceral da Primeira Fase
A Dor Visceral é a forma predominante de dor experimentada durante a primeira fase do trabalho de parto (fase latente e fase ativa de dilatação).
Mecanismo Fisiológico: Esta dor é desencadeada primariamente pela contração do miométrio (músculo uterino), levando à isquemia uterina (falta de oxigénio temporária), e pela dilatação e efacelemento do colo do útero (cérvix). As fibras nervosas envolvidas são fibras C, de condução lenta e não mielinizadas.
Via de Transmissão Neural: Os impulsos dolorosos viajam através das fibras viscerais aferentes que acompanham as vias simpáticas. Os principais segmentos medulares envolvidos na transmissão da dor visceral uterina localizam-se entre $\text{T}10$ e $\text{L}1$ (nervos hipogástricos).
Características e Distribuição: A dor visceral é tipicamente descrita como uma dor profunda, difusa, lenta, cíclica e mal localizada na região abdominal inferior (hipogastro) e/ou na região lombar baixa. A sua intensidade aumenta progressivamente com a dilatação e o stress isquêmico do útero.
III. O Segundo Tipo de Dor: A Dor Somática da Segunda Fase
A Dor Somática sobrepõe-se à dor visceral e torna-se a manifestação dominante durante a segunda fase do trabalho de parto (expulsivo) e no período imediatamente anterior.
Mecanismo Fisiológico: Esta dor é causada pelo estiramento e compressão das estruturas pélvicas pelo movimento descendente e rotação da cabeça fetal. As principais estruturas envolvidas são o pavimento pélvico, o períneo, a vagina e o reto. As fibras nervosas envolvidas são as fibras A-delta, de condução rápida e mielinizadas.
Via de Transmissão Neural: Os impulsos dolorosos somáticos são conduzidos pelo nervo pudendo ($\text{S}2-\text{S}4$), bem como pelos nervos ilioinguinal e genitofemoral ($\text{L}1-\text{L}2$).
Características e Distribuição: A dor somática é descrita como uma dor aguda, lancinante, bem localizada e de alta intensidade, sentida principalmente no períneo, na vagina e na região anorretal. Esta dor é exacerbada pela pressão da apresentação fetal e pela distensão máxima dos tecidos moles. A dor somática sinaliza a iminência do parto.
IV. O Terceiro Tipo de Dor: A Dor Referida e o Componente Lombar
A Dor Referida é um fenômeno neurofisiológico que acompanha a dor visceral e é uma fonte significativa de desconforto, especialmente para as primíparas.
Mecanismo Fisiológico: A dor referida ocorre porque as vias neuronais viscerais e somáticas convergem em neurónios comuns na medula espinal. Os impulsos da dor uterina (visceral) são interpretados pelo cérebro como provenientes de uma área somática superficial inervada pelos mesmos segmentos medulares.
Segmentos Medulares e Distribuição: Dado que a inervação uterina é principalmente $\text{T}10-\text{L}1$, a dor é frequentemente referida para áreas da pele e músculos inervados por estes segmentos, nomeadamente a região lombar, o sacro, as ancas e as coxas (por vezes, a parte anterior).
Lombalgia do Parto: A forma mais comum de dor referida é a lombalgia do parto (back labour), que é particularmente intensa em partos onde o feto se encontra em apresentação occipital posterior persistente. Nestes casos, a cabeça fetal pressiona diretamente o sacro e a coluna vertebral, exacerbando o componente somático referido.
🤰 Os 3 Tipos de Dor no Parto e Como Lidar com Cada Um
✨ 10 Prós Elucidados da Dor no Parto (Perspetiva Fisiológica)
Embora intensa, a dor do parto não é destrutiva, mas sim um sinal fisiológico crucial que te guia através do processo de nascimento, com benefícios hormonais e de empowerment.
💡 Mecanismo de Sinalização e Orientação: A dor é o sinal crucial de que o teu útero está a trabalhar e a progredir na dilatação, informando-te sobre a fase e a intensidade do teu trabalho de parto.
Tu te orienta pelo sinal. A percepção da dor é um feedback fisiológico que te permite saber onde te encontras no processo de nascimento.
💪 Libertação de Endorfinas e Opióides Naturais: A intensidade da dor estimula a libertação de endorfinas, potentes analgésicos naturais que elevam o teu limiar de dor e promovem o bem-estar após o parto.
Tu te anestesia naturalmente. O teu corpo tem um mecanismo intrínseco de alívio da dor que te ajuda a lidar com a intensidade das contrações.
💖 Pico de Ocitocina e Fortalecimento do Vínculo: O stress e a dor libertam ocitocina, o hormônio do amor e do vínculo, que é crucial para as contrações e para o apego imediato ao teu bebé.
Tu estabelece a conexão. A cascata hormonal induzida pelo parto ativo fortalece a tua ligação emocional e o instinto de proteção.
🧠 Foco Mental e Concentração no Momento Presente: A intensidade da dor exige que te concentres totalmente na respiração e nas técnicas de coping, mantendo-te ancorada e presente no nascimento.
Tu te foca no essencial. A dor atua como um catalisador para a concentração máxima, desviando a atenção de medos e distrações externas.
✨ Sentimento de Empowerment e Conquista: A superação da dor, especialmente sem analgesia, pode ser uma fonte imensa de self-eficácia, reforçando a tua força e resiliência como mãe.
Tu te sente poderosa. Lidar ativamente com a intensidade da dor é uma conquista pessoal que fortalece a tua crença na tua capacidade.
🔄 Controlo da Dor pela Mobilidade e Posição: A dor visceral (primeira fase) é altamente influenciável pela mudança de posição, incentivando-te a moveres-te, o que facilita a descida fetal.
Tu gerencia a progressão. A dor motiva-te a encontrar posições que não só aliviam o desconforto, mas também otimizam o trabalho de parto.
⏳ Estímulo para a Procura de Suporte Atempado: A intensidade crescente da dor sinaliza que o parto ativo começou, garantindo que procuras ajuda profissional e apoio no momento certo.
Tu age no tempo certo. A dor é um relógio biológico que te impede de ignorar o avanço do trabalho de parto.
💪 Aumento da Self-Eficácia e Confiança Futura: A superação da dor do parto constrói uma reserva de força interior que te ajudará a enfrentar os desafios da parentalidade.
Tu te prepara para o futuro. A experiência de lidar com uma dor intensa e funcional aumenta a tua confiança na capacidade de lidar com o stress.
🤝 Envolvimento Ativo do Parceiro (Contrapressão): A dor, especialmente a referida (lombar), obriga o teu parceiro a envolver-se ativamente através da contrapressão e da massagem.
Tu compartilha o esforço. O teu parceiro torna-se um agente ativo de alívio da dor, fortalecendo a vossa parceria durante o parto.
🧠 Diferenciação da Dor Funcional versus Destrutiva: A dor do parto é, na sua essência, funcional e leva a um objetivo positivo, o que a distingue da dor associada à lesão ou doença.
Tu compreende o propósito. Entender a dor como um processo e não uma patologia ajuda a tua mente a tolerá-la.
⚔️ 10 Contras Elucidados da Dor no Parto (Perspetiva Clínica)
A dor no parto, quando não gerida eficazmente, pode levar a um sofrimento materno desnecessário, afetar negativamente o coping e, em casos extremos, ter consequências fisiológicas.
📉 Estresse e Ansiedade Exacerbados: A dor intensa e não controlada pode levar a um aumento da ansiedade e do pânico, dificultando o teu foco e a tua capacidade de relaxamento.
Tu perde o controlo. A dor excessiva pode sobrecarregar o teu sistema nervoso, levando a um ciclo vicioso de dor e medo.
❌ Aumento do Consumo de Oxigénio e Hiperventilação: A dor severa pode levar a hiperventilação e aumento do consumo de oxigénio, o que pode afetar a perfusão uterina e o bem-estar fetal (embora raro).
Tu te desgasta fisicamente. A resposta exagerada à dor aumenta o teu trabalho respiratório e cardíaco.
💔 Experiência de Parto Negativa e Trauma: Uma experiência de dor extrema e descontrolada é um fator de risco para trauma de parto e para o desenvolvimento de tocofobia (medo de futuros partos).
Tu cria uma memória traumática. A dor não aliviada pode deixar uma marca psicológica duradoura no teu self materno.
⬇️ Inibição da Descida Fetal (Pelo Tónus Muscular): A tensão muscular e o stress induzidos pela dor podem levar à contração dos músculos do pavimento pélvico, dificultando a descida do bebé.
Tu bloqueia a progressão. O medo e a dor levam à rigidez muscular, que atua contra os esforços do útero.
🩺 Risco de Aumento da Intervenção Médica: A dor mal gerida é um fator que pode levar à solicitação de analgesia tardia ou de intervenções que podem não ser necessárias em outras circunstâncias.
Tu entra no ciclo da intervenção. O desespero da dor pode levar-te a optar por procedimentos que inicialmente não desejavas.
😴 Exaustão Física e Mental no Puerpério: O esforço e o stress de lidar com a dor extrema consomem as tuas reservas de energia, tornando a tua recuperação pós-parto mais lenta.
Tu começa o puerpério exausta. A energia gasta no coping com a dor é energia subtraída do cuidado ao bebé e da recuperação.
🔄 Dificuldade na Amamentação Pós-Parto: O trauma e o stress agudo da dor não aliviada podem, em alguns casos, interferir com o reflexo de descida do leite e a iniciação precoce da amamentação.
Tu compromete a iniciação. A tua capacidade de relaxar e de criar ocitocina pós-parto pode ser afetada pelo trauma do parto.
🤝 Fadiga e Desamparo do Parceiro de Apoio: A intensidade da dor pode levar o teu parceiro a sentir-se impotente e ansioso, comprometendo a qualidade do suporte que ele te pode oferecer.
Tu esgota o teu suporte. O sofrimento da parturiente tem um impacto emocional profundo em quem te apoia.
🚫 Impossibilidade de Utilização de Técnicas Não Farmacológicas: A dor intensa e súbita pode anular a tua capacidade de te concentrares em técnicas de respiração e relaxamento.
Tu perde as ferramentas. O limiar da dor é ultrapassado, tornando os métodos cognitivos e de foco ineficazes.
⬇️ Comprometimento da Perfusão Uterina (Raramente): Em casos de dor extrema e stress prolongado, a libertação excessiva de catecolaminas pode teoricamente levar a uma vasoconstrição uterina.
Tu te expõe a risco fisiológico. Embora raro, o stress não controlado tem uma base fisiológica que deve ser mitigada.
💡 10 Verdades e Mentiras Elucidadas Sobre a Dor no Parto
Desmistifica as crenças comuns para abordares a dor do parto com conhecimento fisiológico e expectativas realistas.
✅ Verdade: A Dor Visceral (Contração) é Difusa e Lenta (T10-L1).
Esta é a dor da dilatação, sentida no baixo ventre e na lombar, é cíclica e mal localizada, vindo dos segmentos medulares $\text{T}10-\text{L}1$.
❌ Mentira: A Dor no Parto é Constante e Não Tem Pausas de Alívio.
A dor é cíclica e tem picos, permitindo-te intervalos de descanso e de recuperação entre as contrações, especialmente na primeira fase.
✅ Verdade: A Dor Somática (Expulsivo) é Aguda e Localizada (S2-S4).
Esta é a dor da pressão no períneo e na vagina, é lancinante e bem localizada, e é transmitida principalmente pelo nervo pudendo ($\text{S}2-\text{S}4$).
❌ Mentira: A Analgesia Peridural é Perigosa para o Bebé e Deve Ser Evitada.
A analgesia regional (peridural) é o método mais seguro e eficaz para o alívio da dor, com riscos muito baixos para o bebé.
✅ Verdade: A Contrapressão no Sacro É Eficaz para a Dor Lombar Referida.
A aplicação de pressão firme e constante na região sacral modula a dor que é referida da inervação uterina para a lombar.
❌ Mentira: A Dor do Parto Sem Analgesia Torna a Mãe "Melhor" ou Mais Forte.
A força reside na tua escolha informada, seja ela com ou sem analgesia; o empowerment vem da decisão, não da dor suportada.
✅ Verdade: A Hidroterapia e a Mobilidade Reduzem a Percepção da Dor Visceral.
A água quente e o movimento promovem o relaxamento e otimizam a circulação, ajudando a gerir a dor da dilatação.
❌ Mentira: Uma Vez Usada a Peridural, a Mãe Fica Imóvel e o Parto Pára.
Novas técnicas de analgesia permitem a mobilidade parcial (baixa dose), e a peridural não é a causa do não-progresso.
✅ Verdade: O Bloqueio do Nervo Pudendo Alivia Especificamente a Dor Somática.
Este método é o de escolha para aliviar a dor intensa do estiramento perineal e da cabeça fetal no final do expulsivo.
❌ Mentira: Se Escolhes Analgesia, Estás a Falhar em Lidar com a Dor do Parto.
A gestão da dor é uma forma de coping; usar a analgesia é um ato de autocuidado inteligente e de gestão de recursos.
🛠️ 10 Soluções para Lidar com Cada Tipo de Dor
A tua estratégia de gestão da dor deve ser um plano multimodal adaptado à progressão e ao tipo de dor que estás a sentir.
💧 Para a Dor Visceral (T10-L1): Usa Hidroterapia e Calor no Abdómen: Entra no chuveiro ou na banheira (se permitido) e aplica calor na região abdominal inferior para relaxar o útero e as fibras musculares.
Tu acalma o útero. O calor e a água relaxam o músculo uterino, ajudando a modular a dor cíclica e difusa.
🤸♀️ Para a Dor Visceral (T10-L1): Mantém a Mobilidade Ativa: Caminha, balança ou usa a bola de pilates durante as contrações para facilitar o movimento e a dilatação cervical.
Tu ajuda a progressão. O movimento vertical e o balanço usam a gravidade e o movimento pélvico a teu favor.
💪 Para a Dor Referida (Lombar): Exige Contrapressão Firme no Sacro: Pede ao teu parceiro ou doula para aplicar pressão constante e forte com as mãos ou punhos na zona lombar baixa durante a contração.
Tu bloqueia o sinal. A contrapressão inibe a dor lombar referida, que é intensificada pela posição occipital posterior.
🗣️ Para Todos os Tipos: Foca-te na Respiração Rítmica e Lenta: Usa a respiração lenta e profunda como âncora para manter a concentração, oxigenar os músculos e evitar a hiperventilação.
Tu te concentra no presente. A respiração controlada é o teu principal mecanismo cognitivo de gestão da dor.
💊 Para a Dor Somática (S2-S4) e Visceral Intensa: Escolhe a Peridural: Se a dor for limitante, opta pela analgesia peridural para um alívio total, bloqueando as vias $\text{T}10-\text{S}4$.
Tu obtém o alívio completo. A analgesia regional é a forma mais eficaz e segura de interromper a transmissão de dor.
💆♀️ Para a Dor Visceral/Referida: Pede Massagem ou Toque Suave: Entre as contrações, solicita massagem relaxante nas costas e ombros para promover a libertação de endorfinas.
Tu estimula a oxitocina. O toque afetuoso e a massagem ajudam-te a relaxar e a elevar o teu limiar de dor.
🔀 Para a Dor Visceral: Muda de Posição de 20 em 20 Minutos: Evita permanecer na mesma posição. Alterna entre vertical, lateral, quatro apoios ou posição de cócoras (com apoio).
Tu otimiza o encaixe. O movimento constante impede o tónus muscular excessivo e incentiva a rotação fetal.
💡 Para Todos os Tipos: Usa a Visualização Positiva e o Foco: Concentra a tua mente numa imagem ou frase positiva (mantra), desviando o teu foco da sensação dolorosa para o objetivo.
Tu treina a mente. A distração cognitiva reduz a tua percepção subjetiva e o medo.
🩺 Para a Dor Somática Iminente (Expulsivo): Considera o Bloqueio do Pudendo: Se não tiveres peridural, solicita ao obstetra o bloqueio do nervo pudendo para alívio imediato da dor perineal.
Tu anestesia a zona do parto. Esta é uma solução rápida e eficaz para a dor do estiramento dos tecidos no expulsivo.
🌬️ Para a Dor Visceral (Opcional): Utiliza Óxido Nitroso (Gás do Riso): Se disponível, o gás do riso oferece um alívio parcial e auto-administrado, ajudando a gerir o pico das contrações.
Tu obtém um suporte rápido. O gás é de curta ação e ajuda-te a ultrapassar o momento mais intenso da contração.
🙏 10 Mandamentos para o Coping com a Dor no Parto
Adota estes princípios para abordar a dor no parto com mindfulness, flexibilidade e o empowerment da tua escolha informada.
👑 Honrarás a Dor como um Sinal Funcional, Não Destrutivo: Lembrarás que a dor do parto é um sinal de que o teu corpo está a trabalhar, e não de que algo está errado.
Tu confia no processo. A dor tem um propósito e a sua tolerância reside na compreensão da sua funcionalidade.
💡 Não Te Venderás ao Medo, mas Sim à Informação: Educar-te-ás sobre a fisiologia da dor (T10-L1 e S2-S4) para abordares cada fase com a técnica correta.
Tu usa o conhecimento. A informação é a tua arma contra o medo e a ansiedade descontrolada.
⚖️ Usarás a Analgesia Farmacológica como uma Opção de Força, Não de Falha: Aceitarás a analgesia peridural como uma ferramenta poderosa de gestão da dor se o teu coping for ultrapassado.
Tu escolhe o alívio. A tua força reside na decisão informada de cuidares do teu conforto.
🤸♀️ Mover-Te-ás com Flexibilidade, Adaptando a Posição à Dor: Não te fixarás numa só posição; mover-te-ás constantemente para aliviar a dor e otimizar a descida do teu bebé.
Tu escuta o teu corpo. A tua posição ideal muda à medida que o parto avança.
💧 Aproveitarás o Poder do Elemento Água para o Alívio: Utilizarás a hidroterapia e o calor como analgésicos naturais e poderosos para te ajudar a relaxar.
Tu te entrega ao conforto. A água é um bálsamo para o corpo e para a mente durante as contrações.
🤝 Exigirás Contrapressão Constante e Firme para a Dor na Lombar: Orientarás ativamente o teu parceiro para aplicar a contrapressão nas áreas onde sentes dor referida intensa.
Tu te apoia na ajuda. O teu parceiro é uma ferramenta essencial para a gestão da dor lombar.
🗣️ Comunicarás o Teu Nível de Dor com Clareza (EVA): Usarás a Escala Visual Analógica ($\text{EVA}$) (de 0 a 10) para que a equipa médica compreenda a tua necessidade real de intervenção.
Tu te faz entender. A comunicação clara sobre a intensidade da dor é vital para a tua gestão.
🧠 Focar-te-ás na Respiração e no Intervalo de Descanso: Usarás as pausas entre as contrações para descansar e recuperar mental e fisicamente para a próxima onda.
Tu recarrega as energias. O intervalo é a tua oportunidade de reset e de preparação.
❌ Não Cairás na Armadilha do Stress e da Tensão Muscular: Relaxarás os ombros, os maxilares e o períneo durante as contrações para evitar que a tensão dificulte a dilatação.
Tu liberta a tensão. O relaxamento muscular ajuda o teu corpo a abrir-se.
💖 Celebrarás a tua Força, Independentemente do Método de Alívio Escolhido: Reconhecerás que a tua resiliência é definida pela tua jornada, e não pelo teu consumo de fármacos.
Tu te congratula pela tua escolha. O parto é um ato de força, independentemente do caminho que escolheste para o alívio da dor.
V. Estratégias Não Farmacológicas para a Gestão da Dor (Todas as Fases)
Os métodos não farmacológicos são cruciais para a gestão da dor nas fases iniciais e como adjuvantes na dor somática, promovendo o controlo materno e o parto humanizado.
Mobilidade e Mudança de Posição: A mobilidade ativa (caminhar, balançar, usar a bola de pilates) reduz a intensidade da dor visceral ao otimizar a perfusão uterina e ao facilitar a descida fetal. Posições verticais e a posição de quatro apoios são eficazes para aliviar a dor lombar referida.
Hidroterapia e Calor Terapêutico: A imersão em água quente (banheira ou chuveiro) e a aplicação de calor seco (compressas, rice packs) na região abdominal ou lombar atuam como analgésicos não farmacológicos, promovendo o relaxamento muscular e modulando a percepção da dor através da Teoria do Portão.
Massagem, Contrapressão e Tato: A aplicação de contrapressão firme no sacro é altamente eficaz para aliviar a dor lombar referida, atuando por estimulação tátil e inibição da dor na medula. A massagem e o toque gentil promovem a libertação de endorfinas e ocitocina, neuro-hormônios que elevam o limiar da dor e a sensação de bem-estar.
Técnicas de Respiração e Relaxamento: O controlo respiratório rítmico e focado em conjunto com técnicas de relaxamento muscular e visualização distrai o cérebro do foco da dor, reduzindo a percepção de intensidade (mecanismo de distração cognitiva e controle autonômico).
VI. Estratégias Farmacológicas para a Gestão da Dor (Alívio Regional e Sistêmico)
A analgesia farmacológica, particularmente a regional, é o método mais eficaz para o alívio da dor visceral e somática.
Analgesia Regional (Peridural/Espinal): A analgesia peridural é o gold standard para o alívio da dor do parto, sendo eficaz contra os três tipos de dor. Atua bloqueando a transmissão nervosa nos segmentos medulares $\text{T}10-\text{L}1$ (dor visceral) e $\text{S}2-\text{S}4$ (dor somática), interrompendo a dor na sua origem central. A analgesia espinal, de início mais rápido, é útil em partos de progressão acelerada.
Analgesia Sistêmica (Opióides): O uso de opióides (e.g., meperidina, fentanil) por via intravenosa ou intramuscular proporciona alívio parcial da dor, atuando centralmente no sistema nervoso. Contudo, são mais eficazes contra a dor visceral e menos contra a dor somática intensa, e apresentam o risco de depressão respiratória neonatal se administrados muito perto do parto.
Anestesia Local (Bloqueio do Nervo Pudendo): O bloqueio do nervo pudendo, realizado com anestésico local, é a intervenção de escolha para o alívio da dor somática na segunda fase, oferecendo alívio efetivo na compressão e estiramento perineal ($\text{S}2-\text{S}4$). É frequentemente usado quando a analgesia regional não é desejada ou há necessidade de reparação extensa.
VII. Conclusão: A Importância da Escolha Informada e Multimodal
A dor do parto é uma experiência neurofisiológica complexa, variando em origem e intensidade ao longo das suas fases. A Dor Visceral ($\text{T}10-\text{L}1$), a Dor Somática ($\text{S}2-\text{S}4$) e a Dor Referida (Lombar) exigem abordagens de gestão diferenciadas.
A gestão ideal da dor é multimodal e centrada na parturiente, integrando a potência da analgesia regional (para alívio completo) com os benefícios de controlo e conforto dos métodos não farmacológicos (mobilidade, água, contrapressão). A chave para um parto positivo reside na educação pré-natal que capacita a mulher a compreender a fisiologia da sua dor e a tomar decisões informadas sobre as opções de alívio disponíveis, garantindo que a sua experiência seja segura, respeitada e o mais confortável possível.
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